<font color=666666>(...há 30 anos...)</font><br>O ano em que tudo começou

A Festa no Avante!

Em 1976, nos dias 24, 25 e 26 de Setembro, realizou-se no recinto da antiga FIL, em Lisboa, a primeira edição da Festa do Avante!. Concretização de um sonho antigo acalentado em anos de luta clandestina, esta realização foi um acontecimento singular e o início de um exaltante percurso que continua imparável, trinta anos depois. No ano da trigésima Festa do Avante!, recordamos aqui o que escrevemos acerca da primeira edição.

«A Festa que Portugal nunca tinha visto», titulava o Avante! de 30 de Setembro de 1976. Nessa edição, o órgão central do PCP publicou reportagens, entrevistas e crónicas sobre este acontecimento ímpar na vida do Partido e do País. Lendo hoje as suas páginas, é impossível não dar razão às palavras proferidas por Álvaro Cunhal no comício de encerramento: «Esta Festa do nosso glorioso Avante!, do nosso glorioso Partido, é a maior, a mais extraordinária, a mais fraternal e humana jamais realizada no nosso País.»

Amizade e solidariedade

A primeira Festa foi, como afirmou o Avante!, a «festa da solidariedade e do internacionalismo, concretizada na Cidade Internacional, ponto de encontro de trabalhadores portugueses com trabalhadores de muitos outros países do mundo». Na FIL estiveram presentes 25 delegações estrangeiras, com diferentes origens e vivendo e lutando em diferentes realidades.
Dos países socialistas vieram representações de partidos que «dirigem os destinos dos seus povos, e que são cada vez mais o Partido de um todo popular, que tende a ser constituído unicamente pelas massas trabalhadoras». Da União Soviética à Jugoslávia e da República Democrática Alemã ao Vietname e a Cuba, as diferentes realidades da construção de uma sociedade nova passaram pela Festa.
Mas também estiveram presentes representantes de partidos «que se batem na clandestinidade, que vêem os seus militantes presos, mortos, torturados, com fileiras sempre renovadas pelo impulso de um trabalho de massas em que se abrem as perspectivas do futuro». E outros que lutam «contra o poder institucionalizado do capital». Marcaram também importante presença os movimentos que deram novos países ao mundo. Países como Angola, Moçambique e Guiné-Bissau.
A Festa mostrou a solidariedade dos comunistas portugueses para com a luta de todos os povos do mundo. Mas foi mais do que isso: «25 povos do mundo, de todos os continentes, estiveram representados em Portugal. Para demonstrar a sua solidariedade para com a Revolução portuguesa.»

Luta e história

«A nossa história é a luta do povo», afirmava um título da edição do Avante! do dia 30 de Setembro do já longínquo ano de 1976. O País acabava de derrubar o fascismo e havia que dar a conhecer aos trabalhadores e ao povo o que tinha sido a tenaz e corajosa luta antifascista, com os comunistas à frente. No Pavilhão do Comité Central do PCP, contava o jornal, esteve patente uma «ampla exposição fotográfica e documental» sobre a vida do Partido do fascismo à democracia. Na documentação exposta, contava o Avante!, «podia verificar-se a presença constante do PCP nas mais pequenas lutas do povo português, em prol da causa da paz, da democracia e da justiça social».
Em tempos de Revolução, e numa iniciativa de comunistas, o mundo do trabalho não podia deixar de estar presente na primeira Festa do Avante! que foi, como se pôde ler no jornal, «um grande hino ao trabalho, um grande hino aos trabalhadores». Quem lá esteve, assegurou o Avante!, pôde comprová-lo. «Aqui um torno, além uma rede de pesca, em frente uma saca de cimento ou uma miniatura de um transporte colectivo.»
A Reforma Agrária, que nesse tempo avançava nos campos do Sul, marcou também significativa presença. «Era vê-la nos rostos da multidão, homens e mulheres que traziam a imagem da dureza do trabalho estampado nas faces e nas mãos abertas em gestos de solidariedade.»

Cultura do povo e para o povo

A cultura está ligada à Festa do Avante! desde a sua primeira edição. Cultura que é, ela mesma, expressão do projecto e das raízes do PCP. Por todo o recinto da FIL, eram muitas as expressões culturais e artísticas - das obras feitas pelos construtores nos diversos stands aos grandes espectáculos nos palcos da Festa.
Os músicos vieram dos quatro cantos do mundo. De Portugal e dos novos países africanos de língua portuguesa (Angola, Guiné-Bissau e Moçambique); dos países socialistas como a União Soviética, a República Democrática Alemã, Cuba, Bulgária, Hungria, Checoslováquia e Roménia; de países com ditaduras militares fascistas, como o Chile, o Uruguai ou o Brasil; e de estados capitalistas como Espanha, França, Itália, Irlanda e Estados Unidos.
Mas a cultura portuguesa esteve em destaque e a primeira Festa do Avante! «constituiu uma profunda homenagem a todos os combatentes pela liberdade, a todos os patriotas que lutaram no passado contra a tirania fascista e que lutam no presente pela consolidação da democracia, rumo ao socialismo». Entre estes, dois artistas mereceram uma sentida homenagem: Fernando Lopes-Graça e Carlos Paredes, músicos brilhantes e comunistas dedicados.

Grande comício no domingo

O comício da Festa do Avante! realiza-se no domingo, dia 3 de Setembro, pelas 18 horas, e constitui a grande iniciativa política da Festa, a par da abertura, realizada pelas 19 horas do dia 1 na Praça da Paz. No grande comício de encerramento, que mobiliza muitos milhares de comunistas e amigos para o Palco 25 de Abril, tomarão da palavra o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, José Casanova, membro da Comissão Política e director do Avante! e um dirigente da JCP.
A análise da situação nacional e internacional e as propostas do Partido para o País marcarão mais este grande e exaltante momento de afirmação dos ideais e do projecto dos comunistas portugueses. No palco estarão os representantes de partidos e organizações estrangeiras e os membros do Comité Central do PCP.


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